Alec Silva: teimosia, humor e caos criativo

Antes mesmo de aprender a ler, Alec Silva já era fascinado pelas palavras — pelas formas, pelas fontes, pelas embalagens. O autor, que define seu estilo como “bipolar” e escreve impulsionado pela curiosidade e pela teimosia, traz para a Lendari® Originals uma mistura de humor ácido, misticismo e aventuras absurdas, onde o “por que não?” é sempre o ponto de partida. Acompanhe a entrevista a seguir.

Início e trajetória

Como começou sua relação com a escrita?

Olha, difícil dizer. Eu sempre gostei das palavras, da forma, de como eram feitas nas embalagens das coisas, nas páginas; gostava da forma, da variedade de fontes. Então, antes de aprender a ler, eu já gostava da escrita, queria imitar aquelas fontes de embalagens de biscoitos, latas e caixas. Quando aprendi a escrever, portanto, sempre estava tentando criar minhas histórias, escrever alguma coisa. Tornei-me escritor por curiosidade, não por incentivo.

Você lembra qual foi o primeiro texto ou história que escreveu?

Não, não lembro. Minha infância é algo confuso para mim, mas eu lembro que já escrevi uma noveleta que todos os parágrafos respeitavam a ordem alfabética; era uma história sobre as letras se rebelando. Já escrevi uma peça teatral parodiando Cinderela e que se passava numa favela do Rio de Janeiro. E escrevi uma fanfiction amalucada de O Parque dos Dinossauros, que a escola que eu estudava pegou para digitar e nunca mais me devolveu. Isso tudo foi antes de 2007, quando escrevi meu primeiro livro, uma fantasia romântica inspirada na lenda de Eros e Psiquê; hoje chamam de romantasia, e até fiz uma versão sáfica desta primeira história, pois a original é muito ruim!

O que te inspira a continuar escrevendo hoje?

A teimosia. Ano passado eu tinha comentado com alguns amigos que estava querendo dar um tempo da escrita, talvez até parar de escrever. Aí selecionei alguns editais de contos, acabei incluindo uns de novelas e romances, e as ideias foram aparecendo. Quando percebi, este ano já tinha escrito mais do que os últimos dois ou três anos. Porque sou teimoso.

Que autores ou obras foram determinantes na sua formação literária?

Cada livro que li ou leio me molda um pouco. No começo, eu tinha Monteiro Lobato como base; não a parte racista, claro, mas aquilo de mesclar a fantasia ao cotidiano, e isso me levou ao realismo mágico, a Murilo Rubião e José J. Veiga. Tive uma amiga que me inspirou bastante, ajudou a lapidar a escrita bruta que eu tinha; a amizade infelizmente acabou, mas o que aprendi segue aqui. Conhecer Samuel Cardeal, que escreve num estilo bem diferente do meu, foi fundamental também. E tem R. F. Kuang, que atualmente é minha maior referência em literatura fantástica e ficção no geral. Mas, claro, tem outros nomes, de várias épocas e países, e isso aparece aqui e ali, de acordo com o que eu escrevo.

Como você definiria o seu estilo em poucas palavras?

Bipolar. Não no sentido pejorativo. Eu sou bipolar, então minha escrita segue a tendência de meu humor. Recentemente escrevi um livro de quase 51 mil palavras em 17 dias, sendo 12 desses dias em estado maníaco. Isso reflete na história que eu quis contar.

A experiência com a Lendari

Você esperava integrar o Lendari Originals?

De jeito nenhum. Tentei por puro impulso. E aqui estou.

O que mais te atraiu na proposta da Lendari, de escrever dentro de universos já existentes?

O desafio de seguir regras. Ou escrever o mais próximo possível dos limites mercadológicos. Adoro desafios.

O que significa, pra você, fazer parte de uma iniciativa que aposta em autores como expansores de franquias literárias?

Significa fazer parte de algo. Não sou muito sociável, mas me agrada um ambiente que, mesmo eu sendo quem sou, as pessoas me permitem ficar. E poder conhecer talentos melhores que o meu também, o que já aconteceu e só aumentou minha responsabilidade com a franquia que estou desenvolvendo.

Quais desafios e liberdades existem em escrever histórias dentro de uma franquia compartilhada?

Meu maior desafio está sendo ler dois livros imensos sobre a Alemanha do final do século 19 e meados do século 20 enquanto termino estágio da faculdade. Mas a Lendari tem me dado liberdade para estudar o que preciso e oferecer histórias mirabolantes. Até hoje não sei como aprovaram uma que sugeri.

A franquia e o processo criativo

Como você descreveria a franquia Z.E.I.T.G.E.I.S.T. para quem nunca ouviu falar dele?

Uma agência de investigação e combate a crimes e ameaças sobrenaturais, onde os agentes são mais esquisitos do que os casos que investigam, a parte burocrática não faz muito sentido, e você nunca sabe o que vai acontecer exatamente na história, pois em algum momento o autor soltou “Por que não?” e veio uma cena bizarra. É uma franquia de aventura e absurdos, e isso é bom, eu acho.

Qual é o principal tema ou emoção que essa franquia desperta em você como autor?

Filmes que passavam de tarde no SBT. Bons tempos.

Existe algum personagem ou elemento do universo que você já considera “seu”?

Talvez os elementos sobrenaturais. O que me atraiu a esta franquia foi poder soltar um pouco do conhecimento que tenho sobre ocultismo, misticismo, folclore e mitologia. A primeira história entrega muito disso, aliás.

Que tipo de pesquisa ou imersão você faz para escrever dentro dessa mitologia?

Temas ocultistas e sobrenaturais, principalmente. Como tenho muito material sobre isso em minha biblioteca, é uma parte fácil e prazerosa.

Se essa franquia virasse filme, série ou jogo, quem você gostaria que a dirigisse ou interpretasse seu personagem favorito?

O elenco não importa muito, mas eu chamaria Joe Dante para dirigir. Adoro o que ele faz quando tem liberdade criativa.

Bastidores e futuro

Você tem algum ritual de escrita (hora do dia, trilha sonora, bebida preferida)?

Não. Sou apenas a pessoa que, quando empolga, escreve até em folha avulsa e depois transcreve pro computador. Talvez eu devesse ter disciplina, mas não gosto de fazer da escrita um compromisso tão sério, pois acaba com a diversão.

Qual foi o maior aprendizado até agora em sua carreira?

Às vezes aquela ideia fenomenal, que renderia um livro, funciona melhor em um conto.

Pode dar uma pista do que vem por aí na sua história?

Até o momento, são duas. A primeira mostra as origens da agência, e tem um tom mais aventuresco, com pitadas de horror, como as histórias de Algernon Blackwood. Passa-se na Alemanha pré-nazismo, mas veremos coisas que já estavam lá naquela época. A outra é o oposto, um noir com absurdos, e realmente não sei como aprovaram esse enredo.

Que tipo de leitor você imagina lendo (e vivendo) o mundo que está ajudando a construir?

Quem gosta de aventuras, dar algumas risadas e procura uma leitura meio pulp. Quem busca o sentido da vida pode se decepcionar bastante.

Como você sonha ver essa franquia daqui a cinco ou dez anos?

Cheia de histórias mais absurdas do que as que estou contando, com visões de outros autores, e eu tentando não me perder na linha do tempo.

Ping-pong rápido (respostas curtas)

Uma palavra que define a Lendari?

Supercalifragilisticexpialidoce.

Um personagem da ficção com quem você se identifica?

Gregor Samsa.

Uma trilha sonora ideal para o universo que você escreve?

Melodic death metal, de preferência. Adoro sons pesados, mesmo que não seja condizente a momentos mais leves.

Um gênero literário que ainda quer explorar?

Thriller. Ainda não me aventurei o suficiente nele como gostaria.

Uma frase que te move como escritor(a)?

“Se existe um livro que você deseja ler, mas que ainda não foi escrito, então você deve escrevê-lo”, Toni Morrison.

Baseio tudo o que escrevo nesta frase.

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